ORIENTAÇÃO ESPIRITUAL E PSICOTERAPIA - CAMINHOS PARA O CRESCIMENTO HUMANO E ESPIRITUAL NO PROCESSO FORMATIVO

A Orientação Espiritual e Psicoterapia tem recebido ênfase como recursos para o crescimento humano e espiritual na vida cristã. Mas, particularmente para pessoas que buscam a Vida Religiosa Consagrada (VRC[1]) como o caminho de sentido para suas vidas, estas são relevantes e qualificam o processo formativo. A VRC é uma forma própria de viver a vocação cristã e, como tal, tem princípios e exigências singulares para ter consistência e elevada capacidade de resiliência. Entre as exigências que lhe são próprias, está a constante itinerância, a vida comunitária, a missão, muitas vezes, em culturas estranhas e contextos de extremo risco ou em ambientes influentes da sociedade, que requerem atitudes de elevada ousadia, para viver o Evangelho e, em especial, no comprometimento com as causas dos injustiçados e excluídos.
Observamos que o número de pessoas que optam por este estilo de vida, reduziu-se significativamente nos tempos atuais por inúmeros motivos, tais como: sociedade secularizada, reduzido número de filhos, e também pelas exigências atuais deste estado de vida. A VRC requer alto grau de liberdade interior, de renúncias, de ascese, capacidade de saída de si mesmo, abertura e itinerância, colocar-se em segundo plano sempre, na pobreza, obediência e castidade. Estes não são os valores que o mundo propõe, por isso não são muitos que dão conta. A VRC é para poucos, é para os que se colocam em constante vigilância e processo de conversão. É viver a versão do evangelho, e viver na contramão da sociedade Atualmente os consagrados se encontram inseridos na sociedade e vivem em realidades diversas, exercendo as mais diferentes profissões. As pessoas que procuram a VRC são frutos do contexto e a grande maioria traz experiências de vida que merecem atenção especial, pois trazem experiências de infância e adolescência que as deixam com inconsistências que podem comprometer a realização do ideal, se bem que, fragilidades não necessariamente significam obstáculos para este estilo de vida. No imaginário coletivo, existem estereótipos sobre as pessoas consagradas como “pessoas santas e separadas do mundo ou capazes de tudo, puras, incansáveis etc.”. Atualmente a VRC está numa encruzilhada, buscando sua verdadeira identidade e razão de ser. A dinâmica da VRC exige constante abertura e capacidade de acompanhar as mudanças de e da época sem perder o que lhe é singular. Ressaltamos que cada Congregação Religiosa tem um carisma e espiritualidade própria. Mas acreditamos que independente da tarefa apostólica que executam, todos têm uma única missão que é testemunhar o amor e a misericórdia de Deus. Para além dos estereótipos, há muitas concepções sobre o que é VRC. Concebemos a “vocação como iniciativa divina e resposta humana” [2]. Deus dá a graça, mas necessita do envolvimento e comprometimento da pessoa para aperfeiçoá-la na vocação e missão.
A espiritualidade e a ciência são vitais para habilitar a pessoa a servir a Deus de forma livre. A atenção e a vivencia da espiritualidade pelo ser humano contribui para que o desenvolvimento da pessoa possa acontecer de forma global e saudável e se mantenha aberta para desenvolver-se infinitamente, conforme o plano de Deus Criador.
As ciências, em especial a Psicologia e a Antropologia, têm o que oferecer ao processo formativo, mas há que se cuidar para não haver fragmentação e/ou sobreposição com as demais dimensões da formação. Facilmente, as candidatas à VRC supervalorizam a busca de seu eu mais profundo pela psicoterapia e não conseguem manter um ritmo no cultivo espiritual, que também engloba tudo que é humano.
É também verdade que tudo que a pessoa vive fica registrado no psíquico, no entanto, esta não é a única dimensão da pessoa. Pode-se observar que a dimensão psicológica da vida espiritual tem seu enraizamento nas dinâmicas humanas. Tudo está impresso no corpo, mente e na psiquê. É no humano que o divino se manifesta. Portanto, tudo que é humano é psíquico e tudo que é psíquico é divino. Para todas as pessoas, o autoconhecimento torna-se importante para sua realização e seu contexto relacional. No caso da VRC, a formação precisa abarcar o todo da pessoa levando-a a reconhecer os condicionamentos e não só as liberdades e, conduzi-la, na liberdade, a um estilo de vida que permita Deus ser Deus e a razão de sua existência. Ser livre o suficiente para fazer a opção por um estilo de vida que se centraliza no seguimento e gradual conformação a Jesus Cristo pela vivência dos Votos de Pobreza, Obediência e Castidade, e assim encontrar a realização pessoal.
Esta decisão exige abertura confiante para acolher a verdade que Deus vai revelando sobre o passado, presente e futuro da pessoa. A formação para a VRC é gradativa e ampla, contemplando estudos acadêmicos, psicoterapia individual e grupal, acompanhamento personalizado, convívio comunitário, experiências de missão, oração, etc.
Assim sendo, o estilo desse trabalho de conclusão de curso é ensaístico e empregarei do ponto de vista metodológico fragmentos de depoimentos de pessoas[3] que passaram por tais processos (colhidos ao longo de anos na realização de tais acompanhamentos), a fim de ilustrar aspectos teóricos que apresento nesse ensaio – procedimento próprio dos moldes da pesquisa participante e/ou pesquisação.
Os aspectos citados acima se encontram no depoimento de uma jovem Joice de 30 anos de idade no segundo ano de noviciado. Assim ela se expressa sobre a importância da psicoterapia no amadurecimento humano e espiritual.
Ela diz:

No meu primeiro ano de formação, com as Irmãs da Divina Providência, fui orientada por minha formadora a fazer um acompanhamento terapêutico, a fim de me possibilitar uma ajuda diante do meu processo formativo e integração humana. A princípio fiz resistência e respondi que eu pessoalmente gostaria de sentir necessidade para tanto.
Passando-se um semestre, solicitei da minha formadora o acompanhamento, e foi melhor assim. Tive este acompanhamento durante um bom tempo (fiz meio ano de Aspirantado e os dois de Postulado). Durante esse tempo fui desconstruindo e reconstruindo muitas coisas, fatos que marcaram, tanto positivamente como negativamente, minha vida, minha história.
A terapia foi me ajudando a dar-me conta das minhas reações espontâneas que machucavam as pessoas no meu entorno e machucavam a mim mesma. Assim como ajudou a me perceber, a descobrir de onde vinham meus condicionamentos, resistências e até mesmo, às motivações para fazer minha opção profissional e vocacional. Sofri muito ao perceber que, durante um bom tempo, vivi para corresponder às expectativas das pessoas em relação a mim, principalmente da família.
Ao chegar à Congregação, eu apresentava resistências, até para me adaptar às realidades culturais e eclesiais do Rio Grande do Sul. A terapia me ajudou de tal forma, que percebi o não acolhimento de minha própria cultura, foi lindo esse processo de integração da minha cultura e a cultura gaúcha.
Pude perceber durante esse tempo o quanto as reações das pessoas me afetavam, de modo especial daquelas que eu amava e amo, chegava a gastar muitas energias com isso e até perder sono, o que me causava raiva e consequentemente tristeza.
Com a ajuda da terapeuta, a partir dos seus encaminhamentos e em confronto com minha formadora (Postulado), fui fazendo um significativo caminho de integração pessoal, dei passos gradativos e pequenos, porém, importantes para abraçar com sinceridade e transparência a Vida Religiosa Consagrada.
Minha terapeuta trabalhava a partir da linha de Jung, meus sonhos, e de fato, isso foi correspondendo ao processo de autoconhecimento que vinha fazendo. Valorizando meus dons e possibilidades fui trabalhando minhas inseguranças e baixa autoestima, aos poucos, ganhando confiança em mim mesma.
Contudo, não foi tão simples assim. Todo processo, quando feito com sinceridade, transparência é doído, principalmente quando isso se refletia em minhas experiências de oração, porque me deparava com minhas realidades e verdades e muitas vezes queria fugir disso, com medo de descobrir algo que não correspondia com minha opção para Vida Religiosa Consagrada. No entanto, depois de muitas fugas, chegou o momento de me pegar pelas mãos e dizer: aconteceu isso aqui, eu me tornei isso aqui, eu decidi por isso aqui, e vou dar um novo sentido para essa opção, e assim deslanchei e abracei meu Projeto para seguir Jesus Cristo como Irmã da Divina Providência.
Ao chegar ao Noviciado fiz uma significativa experiência com Jesus Cristo e seu projeto do Reino. Ali percebi a dimensão de muitos aspectos que eu já havia trabalhado em mim durante o tempo de terapia. Isto foi importante para eu afirmar meu projeto de vida. Cresci em minhas convicções e percepção de verdades. Pude ser eu, de forma livre, espontânea e participativa na vida comunitária e missão. Desenvolvi uma surpreendente autoconfiança em mim.
No entanto, já não tinha mais a terapia. Em um determinado momento de crise, a tristeza bateu forte. Senti Deus distante, na verdade, eu distante de mim mesma. Ali percebi que algo não estava integrado em mim. Passado o ano canônico, em diálogo com a formadora, sentimos necessidade de retomar meu processo terapêutico, a fim de trabalhar uma questão bem específica que me envolve de vez em quando, o que estou fazendo.
De um todo, já cresci humanamente bastante, e isso tem refletido em minhas relações com as pessoas, na opção de vida, no amadurecimento vocacional, na missão e principalmente na oração, pois tenho resistido às fugas quando aparecem e tenho me confrontado na liberdade com Deus e com seu projeto de amor.
Na oração e no discernimento cotidiano, tenho prestado atenção em mim, em minhas ações, decisões, confirmações, resistências e projeto de vida: “Construir a minha casa sobre a rocha”. Com coragem tenho assumido tudo isso e venho me colocando por inteira onde estou e na missão que Deus me confia como uma Noviça, Irmã da Divina Providência. (cf. Joice)

Cremos que a tarefa básica da formação inicial para a VRC é formar a pessoa na liberdade e para a liberdade e assim ajudá-la gradativamente a descentrar-se e transcender-se para ‘suportar’ o amor de Deus e comprometer-se com um projeto em que ela se sinta realizada e feliz e contribui para a felicidade dos outros. Compreendemos o amor como a marca divina, o reconhecimento da imagem do amor do Deus “tripessoal/trinitário”, que justifica a necessidade do cultivo da espiritualidade que nunca é alheio às relações humanas.
Acolhendo a verdade espiritual baseada no antigo axioma antropológico que “a graça supõe a natureza”, o questionamento que emerge é como acolher e fortalecer a natureza humana da pessoa que chega à Congregação Religiosa, respeitando sua estrutura psíquica para que suporte a graça de Deus e, consequentemente, a leve ao compromisso livre e responsável com a causa da Congregação, pela qual se sentiu atraída.
A psicoterapia pode ser salutar se acontecer simultaneamente à Orientação Espiritual. Pode contribuir para o autoconhecimento. Pode também ser anterior a ela conforme o momento e situação da pessoa.
Qual é de fato a contribuição da psicoterapia e da Orientação Espiritual? Tem-se dado muita ênfase ao autoconhecimento e nas relações interpessoais das etapas iniciais de formação e mesmo na formação continuada. Com esta possibilidade, não raras vezes, a pessoa descobre em si elementos até então não conscientes que podem ter influenciado na sua decisão e, se não são integrados podem comprometer sua caminhada vocacional e o amadurecimento humano saudável. A pergunta é, quando e quanto tempo e por qual meio a pessoa precisa trabalhar suas fragilidades psíquicas? Cabe aos formadores e Orientadores Espirituais, com a pessoa sentir e sugerir em que momento do processo é importante para a pessoa contar com a psicoterapia.
Como já afirmamos a VRC é uma opção de vida exigente. Precisa de pessoas capazes de optar com e na liberdade e, consequentemente, manter viva e crescer em maturidade e profundidade na opção feita. VRC é constituída por pessoas humanas reais e seu fundamento encontra-se no nível da fé, que não é sinônimo de perfeição. A VRC é um estilo de vida “anômalo e inseguro”. Seus membros não se escolhem mutuamente, não decidem com seus critérios pessoais pela missão que realizam, não possuem bens, eles vivem um paradoxo: “não têm nada e têm tudo”. É-lhes exigido serem amantes do mundo, doutores do amor sem se apegarem a ninguém. Para tanto, as candidatas à VRC passam por um processo formativo que se dá no nível humano, mas que se ancora gradativamente no divino, buscando consistência na relação com Deus.
A partilha que segue adiante ilustra bem o benefício da psicoterapia num momento de crise existencial, no itinerário vocacional e nele percebe-se a integração da psicoterapia e da Orientação, no processo de amadurecimento humano e espiritual.

A psicoterapia, ajudou-me no autoconhecimento, na auto percepção dos sentimentos, das reações espontâneas e no acolhimento da minha história e realidade. Passei por momentos de grandes questionamentos, de chateações, raivas e tensões. Estava longe de mim, e sentindo-me longe de Deus. Vivi uma desordem emocional e espiritual. As minhas convicções foram se tornando frágeis. Passei a questionar as experiências de Deus até então significativas na vivência vocacional e missionária. Senti desejo de buscar esclarecer e aprofundar as verdades da fé que conhecia e as experiências de Deus que foram fortalezas na minha caminhada. Aos 34 anos de idade, iniciei psicoterapia e, aos 35 anos de vida, busquei a ajuda na orientação espiritual. Por perceber muitos fatos de vida que até então não havia acolhido, tive medo de perder a vocação. Na Orientação Espiritual encontrei um espaço de acolhida, de escuta atenta e muita sintonia. Com os momentos de partilhas, fui ganhando espaço para clarear e fortalecer as razões da fé, das experiências de Deus que estavam obscurecidas. A Orientação Espiritual tem sido um grande beneficio para o meu processo de crescimento espiritual e amadurecimento na fé cristã. A Orientação Espiritual me ajuda na escuta, no dialogo com Deus e comigo mesma. Tanto a Psicoterapia, quanto a Orientação Espiritual tem contribuído para sentir-me uma mulher inteira, com capacidade de amar e deixar-me amar. O autoconhecimento tem ajudado no cultivo de uma espiritualidade integrada e libertadora. A Orientação Espiritual é como uma luz para permanecer no caminho e sentir-me em casa comigo. Sinto que em mim está nascendo o desejo de encontrar o infinito e permanecer na presença de Deus e as descobertas deste caminho quero compartilhar com alguém. (cf. Marília)

Em todas as etapas de vida, a pessoa precisa de “mistagogos” como mediações que conduzem o processo de maturação. Aí se encontra a razão da Orientação Espiritual e, em determinadas situações e tempos, a psicoterapia. Embora cientes que o grande mistagogo será sempre o Espírito Santo, como humanos necessitamos de pessoas na caminhada. Enquanto pessoa necessita de outras pessoas que a ouçam e acolham e, por vezes, confirmem a direção a tomar. Nos processos formativos de candidatas à VRC, formadoras, orientadoras espirituais e psicoterapeutas devem ser hábeis para identificar os sinais da presença de Deus, nas experiências de vida, embora cada um tenha sua tarefa própria no itinerário da pessoa que acompanham.
No campo da saúde psicológica, existem elementos já confirmados de que na pessoa existe uma religiosidade inconsciente, ou seja, como Frankl descobriu em suas pesquisas, há uma relação com a transcendência que é imanente. Segundo esta teoria, toda pessoa, independente de seu estado de vida, é dotada desta dimensão e esta deveria ser desenvolvida para que possa chegar a sentir-se inteira. Pode ser que em algumas pessoas na VRC, a religiosidade encontre terreno propício para desenvolver-se. Se assim for, um itinerário espiritual poderia dar conta de sua história com tudo que dela faz parte. A questão a ser considerada é dar SENTIDO ao vivido e desejado. Olhando por este prisma, todos os seres humanos teriam possibilidade de optar pela VRC.
No entanto, a pessoa pode desejar Deus como fuga de si mesmo. O chamado para a VRC pode também ter na raiz fenômenos como: fantasia, fuga, culpa, sentimentos internos de medo ou irreais. (cf. Is. 6,1ss.).
Por estas e outras questões, procuraremos esclarecer conceitos sobre Espiritualidade, Orientação Espiritual, Psicoterapia e identificar os elementos específicos de cada meio, bem como, sua complementariedade, alcance, semelhanças e diferenciações necessárias em vista de oferecer elementos que contribuam para uma formação sólida a quem chega para VRC.
Toda vocação surge numa experiência e se mantem numa relação. Portanto, há o chamado, a escuta e a resposta a alguém. Isto não ocorre num momento único, pode implicar uma vida. A experiência pode ser mais ou menos consciente, mas é imprescindível que aconteça o momento da opção e posterior resposta.
Cremos que somos seres criados e criadores, temos em nós a marca do Criador que vai agindo em nós e por meio de nós, por isso, o crescimento humano e vocacional acontece na imanência e na transcendência. A pessoa humana é mistério marcado de virtudes-pecados, liberdade – escravidão, amor – egoísmo e, a profundidade e intensidade como a pessoa vive é processual conforme escreve Amadeo Cencini[4]. O mesmo autor afirma que a pessoa humana é dotada de um psiquismo que a habilita a transcender-se, abrir-se ao divino, captar seus sinais e amá-Lo. Tal abertura levaria a realização plena da personalidade e esta seria a exigência e vocação de toda pessoa. Sendo assim, poderíamos pautar nossa reflexão sobre a base unicamente humana e, a partir dela, construirmos as respostas que buscamos neste estudo. No entanto, a VRC tem raiz e só tem possibilidade de existir e ser compreendida à luz da fé. Não numa fé desenraizada, mas sim na fé em uma pessoa concreta que é Jesus, o Filho de Deus e seu projeto. A referência, independente do carisma institucional será sempre Jesus Cristo, o divino e humano. E porque não dizer, aquele que se humanizou na obediência ao Pai sendo fiel como vocacionado no pleno envolvimento da condição humana! Jesus Cristo é o vocacionado de Deus Pai e modelo por excelência para todos que se sentem chamados para segui-Lo. No principio da fé cristã, podemos crer que é possível viver o que são Paulo viveu e afirmou ao povo de Éfeso:

Enraizados e alicerçados no amor, vocês se tornarão capazes de compreender, com todos os cristãos, qual é a largura e o comprimento, a altura e a profundidade, de conhecer o amor de Cristo, que supera qualquer conhecimento, para que vocês fiquem repletos de toda plenitude de Deus. (Ef 3, 18-19).

Para alcançar este nível de maturidade de fé há uma caminhada humana longa a ser feita.
A Orientação Espiritual cristã só tem sentido para quem tem uma vida espiritual e quer crescer espiritualmente, tendo em Jesus Cristo seu horizonte. Buscará Orientação Espiritual por necessidade de discernir para perceber onde e como Deus se faz presente nas ambiguidades e instâncias humanas. A pessoa sabe que os caminhos do Espírito a serem trilhados são sempre novos e surpreendentes, e o caminho espiritual é um caminho sempre novo e será sempre inacabado. Neste peregrinar, um/uma Orientador/a Espiritual pode ser o/a companheiro/a de viagem que sinaliza e testemunha a ação de Deus no caminho do orientando, vocacionado à/na VRC. A opção pelo estilo de vida no qual quer viver será opção unicamente da pessoa.
A definição de Orientador Espiritual como “diácono do Espírito” p. 28 é muito pertinente, sendo entendido como um homem ou uma mulher que tem o carisma de ajudar a discernir a experiência espiritual de outra pessoa. Pois, num dado estágio do crescimento espiritual, o/a vocacionado/a já não se vê realizado nos parâmetros do mundo, mas sim nos parâmetros do carisma da Congregação a que pertence. A Orientação Espiritual é um processo humano, centrado no divino. O enfoque da Orientação Espiritual sempre deve ser a experiência de Deus e dos movimentos e moções que acontecem neste discipulado, isso é, no seguimento de Jesus. Na sessão de Orientação Espiritual, foca-se unicamente a pessoa do orientando em sua relação com Deus. William A. Barry e William J, Connolly em seus múltiplos textos sobre orientação espiritual esclarecem que o Orientador Espiritual não interfere no sentido de direcionar, mas ajuda a manter a direção para Deus. Cabe à própria pessoa, no exercício diário, com disciplina e ascese, afinar o ouvido e o coração e direcionar seus afetos acolhendo Deus comunicante nos fatos de sua vida. Nesta relação pessoal, aumenta a intimidade com Ele e cresce em profundidade e na capacidade de assumir as consequências desse relacionamento. Gradativamente, em processo de descoberta de si e de Deus, com a ajuda, o/a orientando/a passa a existir numa relação de amor que quer manter.
A descoberta de sentir-se incondicionalmente filho/a amado/a de Deus é deslumbrante e é o auge da experiência espiritual. Quando a pessoa experimenta o amor de Deus, acolhe sua vida e promove vida, isto é maturidade na fé.
Geralmente isso se consegue fazer em grande profundidade na vivência e escrita da teografia, que é reconhecer os locais sagrados que marcam a vida e dão novos significados ao acontecido. Como compreendemos a VRC na luz da fé, a pessoa é acompanhada por formadoras para gradativamente fazer leitura da sua história de vida, a partir da experiência com Deus, reconhecendo o seu infinito amor, especialmente nos momentos mais sofridos e exigentes de sua trajetória existencial. Ali também se percebe o “primeiro amor”, isto é, o toque primordial, o cerne do chamado vocacional e da resposta que damos naquele exato momento, bem como os instrumentos que Deus usou no itinerário teográfico.

Conforme Ulpiano Vázquez[5], o orientador espiritual como uma “bússola” não inventa o norte, mas faz a função de teógrafo na terra sagrada, que é o coração do/a orientando/o. A percepção das marcas de Deus na trajetória de vida do orientando é identificada no exercício da escuta atenta da narração que o orientando faz de sua experiência espiritual. Deus faz experiência com sua criatura, continuamente e pacientemente se ocupa com a pessoa. Pela vivência espiritual, a pessoa adentra neste Mistério, de onde ela saiu, no qual ela existe e, a partir do qual, vê a vida e os fatos. Isto requer do Orientador Espiritual disposição de escutar a pessoa que fala de si mesma, de Deus e da relação entre ambos. A partilha que o/a orientando/a faz pela palavra é o único meio para o Orientador Espiritual ter acesso à ação de Deus na trajetória espiritual do outro. E será verdadeira Orientação Espiritual quando o Orientador escutar, não somente palavras do orientando/a, mas quando ouvir o próprio Deus falar, agir e conduzir o orientando/a. Digo que viver espiritualmente é ter a graça de experimentar o agir teológico no antropológico, o divino no humano.
Não existe dúvida quanto à importância da ajuda psicoterápica em determinadas situações, particularmente em questões traumáticas e de estresses. A ciência psicológica oferece muitas possibilidades para o autoconhecimento o que repercute diretamente na saúde e bem estar da pessoa. Aceitar e compreender a pessoa humana como sendo “um ser consciente e livre, capaz de ter o domínio dos elementos da sua personalidade, e chamado a crescer progressivamente na mesma consciência-domínio de si como também na liberdade e responsabilidade”[6],p.19 entra a dimensão dinâmica e a possibilidade de amadurecimento gradual. Esta afirmação não abarca a dimensão vocacional e espiritual. Todo cristão deve buscar o autoconhecimento e desenvolver-se plenamente. Portanto, parece evidente que a psicoterapia foca os elementos psicológicos, comportamentos não saudáveis e sua repercussão e importância no desenvolvimento. Nesse campo,[7]apud Volpato Cordioli p. 19 diz:

Psicoterapias são métodos de tratamento para problemas de natureza emocional, nos quais uma pessoa treinada, mediante a utilização de meios psicológicos, estabelece deliberadamente uma relação profissional com a pessoa que busca ajuda, visando remover ou modificar sintomas existentes, retardar seu aparecimento, corrigir padrões disfuncionais de relações interpessoais, bem como promover ou crescimento e o desenvolvimento da personalidade.

Como bem expressa à definição acima, psicoterapia é um recurso da ciência buscada por uma pessoa, quando esta se encontra em uma situação de desconforto que possa comprometer a saúde, o relacionamento interpessoal ou então tem desejo de autoconhecimento. Para atingir este fim, “o terapeuta utiliza especialmente a comunicação verbal (as diferentes intervenções) e a relação terapêutica com a finalidade de o paciente a fazer com que modifique emoções, pensamentos, atitudes ou comportamentos considerados desadaptativos”[8], p. 19.
Existem muitos tipos de psicoterapias e, conforme a técnica que as caracterizam, variam também a frequência e duração das sessões. Em todos os tipos a pessoa visa chegar a um insight maior sobre sua dinâmica psíquica e o efeito dela sobre sua vida. As psicoterapias têm em comum a aceitação e o apoio do paciente por parte do terapeuta, o contrato terapêutico e todas possuem uma teoria na qual a pratica se fundamenta. A colaboração do paciente é vital para o sucesso de qualquer psicoterapia. Sendo assim a psicoterapia é “tratamento” porque é buscada em situação de desconforto na existência de algum conflito a nível emocional. No entanto, pode também ser um meio que visa aprofundar o autoconhecimento que tal como o crescimento espiritual nunca finda. O ser humano é um mistério em constante desenvolvimento e nunca totalmente revelado.
Rita, uma jovem consagrada, de 27 anos de idade e quatro anos de consagração religiosa, ávida por se conhecer melhor, buscou psicoterapia e assim se expressou:

A psicoterapia, no itinerário vocacional me ajuda a perceber as diversas formas de subjetivação, que se tornaram presentes em minha vida, até o presente momento. Algumas vezes ela nos tira o chão quando tomamos consciência de fatos existenciais vivenciados. Quando isso acontece, precisamos aprofundar, especialmente, nossa relação com Deus. Apesar de todo o resto ainda estar bagunçado, senti primeiramente a necessidade de resignificar minha vivência espiritual e a partir dela reescrever minha história de vida.
Uma vez que me dou conta da realidade de minha vida, dos fatos e situações, da forma como os vivenciei, consigo minimamente “aceitar” minha história, assim como é. E, aceitando-a, ela não passa mais a ter uma carga afetiva tão grande. Torno-me mais livre e me observo como sujeita livre e madura para conviver, criar relações e capacitar-me na resiliência. Uma vez feito esse processo, percebo que está em minhas mãos a capacidade de interagir e olhar positivamente para o passado, trazendo presentes as lembranças, porém, com autoconfiança e superação cotidiana, que acaba tornando-se libertador.
Só podemos tomar as decisões mais profundas e livres em nossa vida, na maturidade que se forja no autoconhecimento, independente do meio em que este acontece. Nesse sentido, o autoconhecimento, não é um processo de um determinado tempo de psicoterapia, mas uma constante tomada de consciência das forças que nos atravessam e nos constituem em cada momento de nossa vida. Em vários momentos, precisamos de uma ajuda qualificada para nos entendermos e para percebermos o nosso movimento e dinâmica na relação com os outros. Esta dinâmica está interligada com as forças que foram nos subjetivando, provenientes da cultura familiar e social. “Na conscientização disso, podemos adquirir novas forças cotidianas e criar novos movimentos resignificando “verdades absolutizadas” (cf. Rita)”.

No depoimento se percebe os movimentos psíquicos, a relevante importância da psicoterapia no processo de busca do verdadeiro self. A pessoa não fala que é pela psicoterapia que faz opção de vida, mas encontra por meio dela elementos importantes para o crescimento humano que favorecem o amadurecimento em vista de uma opção ou seguimento mais livre. Estes elementos, citados como forças de subjetivação, se não forem integrados, poderão vir a ser obstáculo na vivência da vocação à VRC.
Podemos constatar na psicoterapia um meio que favorece o autoconhecimento, mas também sua importância é inquestionável nas situações de bloqueios que embotam o afeto, distúrbios de personalidade, fobias e diversas realidades que podem interferir na saúde e na construção do verdadeiro self. A VRC não é privilégio para os fortes, mas requer pessoas suficientemente livres e com sanidade. Na verdade sobre si que a pessoa constrói seu projeto de vida e à medida que se constrói se liberta. O itinerário formativo consiste em buscar a santidade e não a perfeição.
Outro exemplo é o de Ana,  uma consagrada de 65 anos de idade e 42 de consagração religiosa, que tinha uma disciplina pessoal rigorosa, no sentido de fidelidade à oração e prática dos sacramentos. No entanto, sentia-se distante de Deus e as relações com os membros de sua comunidade em momentos eram difíceis e conflitivos. Sentia-se só, excluída, impotente, sem poder e desenvolveu um quadro complicado de hipertensão, fraqueza física e dores no corpo. Quis iniciar Orientação Espiritual. Na terceira sessão foi necessário sugerir-lhe psicoterapia. Iniciou um tratamento psicoterápico intensivo durante o qual descobriu dimensões até então inconscientes que prejudicavam sua saúde, refletiam em sua maneira de ser com as pessoas e deturbavam sua imagem de Deus. Tendo tornado consciente sua dinâmica psíquica, gradativamente foi se reconciliando com seu conflitivo passado e passou a viver com mais liberdade seus compromissos como consagrada em especial sua participação na Vida Comunitária. Recuperou seu elã para trabalhos apostólicos e estabeleceu relação bem mais sadia com sua família. Referiu muitas vezes, passado a crise e após um intensivo trabalho pessoal, passou a sentir-se amada e sente a vida de Deus Trindade nela e nas pessoas que a cercam. A mesma pessoa tem agora consciência de sua fragilidade e busca dar atenção a si e faz partilhas espirituais significativas. Sabe que é muito vulnerável e facilmente perde a autoestima que é “seu espinho na carne” (cf. 2 Cor 12,7) do qual tem consciência e precisa de suporte para não se perder ou mesmo rivalizar para ganhar atenção que necessita.
Os dois depoimentos citados são de pessoas em diferentes etapas de VRC. No primeiro, a pessoa é mais aberta, buscou por iniciativa própria ajuda e, simultaneamente, faz sua teografia. Tem acompanhamento vocacional sistemático por uma formadora. No segundo caso, as defesas são bem mais estruturadas e as crenças “não verdadeiras” em termos de self e a imagem de Deus são mais difíceis de desconstruir. Mas ambas são beneficiadas pelos meios de psicoterapia e Orientação Espiritual.
Ao falar em Orientação Espiritual e Psicoterapia, é pertinente pensar em espiritualidade e religião. Assim, partindo da premissa de que a psiquê é mediação entre o biológico e o cultural e que a religião e a espiritualidade são moldadas pelos meios culturais, aceitaremos naturalmente que, nas opções cristãs, existem fatores como: sociais, históricos, teológicos, filosóficos. Somos seres afetados pelo meio e pela história. A experiência de Deus não se dá no vazio. Na relação com Deus existe um fator específico e imprescindível. Como na encarnação do Filho de Deus, o Espirito Santo precisou de um corpo, o corpo de Maria.  Assim no encontro pessoal com Deus a pessoa é fecundada. Mas também, esse encontro com Deus deve ser, na medida da pessoa, compreensível e passar através das dinâmicas inconscientes às conscientes da psiquê humana. É importante salientar que a definição de espiritualidade/religiosidade como “experiência” deve levar em consideração a forma como o sujeito se deixa afetar e como interpreta essas experiências, e o que ela produz enquanto sentido para a sua vida. A experiência, o captar o mistério de Deus nos fatos da vida pode levar ao amadurecimento humano e espiritual. É pertinente a afirmação, “não a maturidade e sim o amadurecimento é-nos exigido”[9], p. 13 Tal como a maturação biológica e psíquica a dimensão espiritual também é algo que vai se dando, não é dada mas é buscada. A dimensão da espiritualidade como elemento constitutivo e integrador de maturidade humana necessita ser cultivada e acompanhada de modo sistemático. A Orientação Espiritual é necessária para alcançar consistência na fé e suportar as grandes responsabilidades que dela decorrem.
Reconhecemos a importância dos acompanhamentos psicoterápicos, não só na integração de experiências traumatizantes, mas também no autoconhecimento e fortalecimento da estrutura pessoal que favorece a espiritualidade. Nos itinerários vocacionais o cultivo espiritual exige capacidade de momentos específicos de oração, silêncio, solitude e solidão, meditação e contemplação, estes e outros, são elementos próprios constitucionais na VRC e imprescindíveis para manter a consistência e o sentido sempre renovado e continuado. Há, no entanto uma dimensão desejada e temida, que é a solidão. A experiência mostra que é nesta capacidade de viver a solidão e permanecer na solitude, que a pessoa opta pela vida, por causas e por Deus. É na solidão dela mesma, nela e com Deus que ocorrem as grandes decisões, mas também a solidificação vocacional. Seria o que Winnicott afirma quando fala em experiências fundantes da existência que acontecem essencialmente na solidão,[10] p. 100.
Pessoas integradas são pessoas livres e abertas ao mais. Pessoas sem ânimo, pouco criativas, sem expressão de alegria, vivem a vida de modo fragmentado e na VRC são as pessoas que apresentam rigidez e pouca criatividade na vida e missão. Nos casos citados neste ensaio encontra-se o desejo de sentido e em especial a busca da experiência de Deus. É preciso considerar que consagrados/as são pessoas e o estado de vida é o papel que assumem.  Para viver este, como caminho de realização pessoal, fazem processos humanos e de fé e nestes, vão amadurecendo. Isto não ocorre de modo linear. Muitas vezes, entre luzes e sombras, mas sempre em ascensão. Em determinado momento de seu itinerário de vida, surge o desejo de dar um sentido ao seu viver, não se bastam a si, nasce a vocação. Neste momento pode ser oportuno a participação do Orientador Espiritual para auxiliar no discernimento, perfil assim delineado por Pe. Quevedo[11]:

Deve ser uma pessoa de fé e confiança em Deus, com suficiente conhecimento das Escrituras e dos diversos métodos de oração; ter consciência de ser instrumento de Deus para ajudar o exercitante; saber criar um ambiente de acolhida, bondade e empatias, que inspire confiança e facilite a comunicação profunda; ser capaz de compreender e respeitar a situação humana do exercitante, sem julgá-lo nem condená-lo, mas estar mais disponível para escutar do que para dar conselhos.

Embora o conceito acima seja pensado para quem acompanha pessoas em retiros, conforme Exercícios Espirituais de Santo Inácio, o perfil descrito aplica-se também para o Orientador Espiritual, buscado por quem deseja crescer espiritualmente na vocação escolhida. Salutar seria se na VRC a pessoa com suficiente serenidade buscasse enveredar por um caminho espiritual após ter alcançado um razoável nível de autoconhecimento e ter atingido clareza na opção vocacional.
O amadurecimento espiritual como o descreve Anselm Grün, é a “centralização crescente de uma pessoa que vive a partir de um centro dinâmico, e que assim se transforma, recebendo suas respostas à vida de modo sempre mais centralizado e também sempre mais coerente na fé no Deus de Jesus”.[12] É também o que Paulo sobre si e partilha ao escrever aos Gálatas “já não sou eu que vive, mas é Cristo que vive em mim.” (cf. Gl 2,20).  Podemos agora pensar maturidade psicológica, considerando que o parâmetro de “adultez” de um comportamento verifica-se no grau de independência em relação aos desejos orgânicos e motivações arcaicas e regressivas entre os quais nasceu. E ainda considerar de que a pessoa adulta não está irremediavelmente presa a motivações e vivências do passado. Pode ancorar-se em motivações “contemporâneas”, isto é, ao que vive e a encanta no tempo atual, e não somente questões arquivadas no inconsciente infantil[13].
Maturidade Espiritual é a capacidade de viver e existir na solidão e em relação. Centrar-se em si para descentrar-se, estabelecer vínculos significativos e duradouros com os outros, com Deus e a instituição a que pertence e dar-se na missão que lhe é confiada.
A Orientação Espiritual é necessária em toda vida porque o amadurecimento espiritual é um caminho do Espírito e este é sempre inacabado, surpreendente e novo.  Enquanto que a psicoterapia é pontual, muito necessária e benéfica para determinados “trechos” do processo de amadurecimento humano que favorecerá a maturidade espiritual. A Orientação Espiritual tem sua fonte na teologia e pneumatologia, enquanto a psicoterapia a tem nas ciências. Não é possível determinar em que etapa da vida e em que etapa de formação a psicoterapia é mais benéfica, pois depende da necessidade e a maturidade ou imaturidade, consistência e inconsistência de uma pessoa são múltiplos fatores em questão. Enquanto que a Orientação Espiritual é salutar que faça parte desde o inicio da caminhada formativa e se estenda para a vida toda, porque a VRC é um estado de vida humano direcionado e enraizado na fé em Cristo.
Os relatos confirmam que a experiência do cuidado humano favorece o autoconhecimento, e a confiança humana é base para a fé. É pela via da face humana de cuidado, seja pela psicoterapia ou Orientação Espiritual, que Deus se revela e ao mesmo tempo continua sendo mistério. Aquilo que é tocado pelo rosto humano de outrem se transforma em transcendência, afirma Genaro.
Em síntese, Orientação Espiritual e Psicoterapia são caminhos para viver e plenificar nossa humanidade. O amadurecimento espiritual dá-se em nosso processo de humanização. Portanto, um meio não se sobrepõe a outro. Suas técnicas e os profissionais facilitam a vida por meio de recursos distintos. Em certos momentos, se complementam, em outros, a psicoterapia vem antes da Orientação Espiritual. Ambos objetivam ajudar pessoas a amadurecer e alcançar a transcendência que plenifica. A psicoterapia faz perceber como somos, enquanto que o cultivo da espiritualidade nos aponta em que nos podemos tornar. Na psicoterapia a pessoa traz a consciência suas fragilidades e dores, na espiritualidade encontra o sentido das mesmas e se fortalece para viver com elas e transcende-las. Nem o terapeuta nem o Orientador Espiritual pautam o atendimento na moral, mas adotam a escuta e acolhida amorosa. O psicoterapeuta pode ser comparado ao cuidador do terreno humano aonde vai identificando as ervas daninhas que sugam forças e sufocam as sementes, enquanto o Orientador Espiritual zela para que a semente da vida encontre o Sol, germine e permaneça na Luz. Na psicoterapia identifica-se o dissonante, na Orientação Espiritual discerne-se e afina-se o ser – solidifica a estrutura para que a construção da vida seja edificada sobre a Rocha. A psicoterapia ajuda a identificar, reconhecer e despedir, a Orientação Espiritual identifica, reconhece e acolhe os fatos da vida a luz da fé cristã. Psicoterapeuta e Orientador Espiritual, ambos são instrumentos para facilitar a vida e mantê-la consistente e bela segundo o projeto do artista Maior, nosso Deus Criador.

Referências

BARRY, William A.; CONNOLLY, William J. A prática da Direção Espiritual. São Paulo: Loyola, 1999.

BRANDÃO, M. Psicologia e vocação. São Paulo: Ed. Paulus, 1994. 

CENCINI, Amadeo. Vida Consagrada itinerário formativo no caminho de Emaús. São Paulo: Paulus, 1994, p. 19.

CORDIOLI. Volpato Aristides. Psicoterapias: abordagens atuais. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

CORTI, Renato; MOIOLI, Giovanni; SERENTHÁ, Luigi. A direção espiritual hoje: discernimento cristão e comunicação interpessoal. São Paulo: Paulinas, 2005.

GENARO Junior, F. Clínica do envelhecimento: concepções e casos clínicos. São Paulo: Todas as musas. 2013.


GRÜN, Anselm. SARTORIUS, Christiane Amadurecimento espiritual e humano na vida religiosa. São Paulo: Paulinas, 2016.

______. Mística: descobrir o espaço interior. Petrópolis: Vozes, 2012.

GONZÁLEZ-QUEVEDO, Luís. A arte do acompanhamento espiritual. Itaici - Revista de Espiritualidade Inaciana. São Paulo, n. 37, p. 3, set. 1999.


MORO, Ulpiano Vázquez. A nova imagem do orientador espiritual e a sua função. Itaici - Revista de Espiritualidade Inaciana, p. 23-40, set. 2006.


______. Direção Espiritual: Sabedoria para um caminho de fé. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

VALLE, Edenio. Psicologia e Experiência Religiosa. 2ª ed. São Paulo: Loyola, 2008.










[1] Ao longo do texto utilizarei da abreviatura VRC para me referir a Vida Religiosa Consagrada.
[2] Cf. BRANDÃO, M. Psicologia e vocação. São Paulo: Ed. Paulus, 1994, p. 16 
[3] As pessoas depoentes que foram utilizadas nesse ensaio tiveram suas características pessoais alteradas a fim de se preservar suas identidades. Assim nomes, idades, sexos entre outras informações sobre a pessoa são ficcionais cumprindo todas as prerrogativas éticas em voga na pesquisa com seres humanos, assim como tiveram seu consentimento para uso para pesquisa.
[4]CENCINI, Amadeo. Vida Consagrada itinerário formativo no caminho de Emaús. São Paulo: Paulus, 1994, p. 19.
[5] MORO, Ulpiano Vázquez. A nova imagem do orientador espiritual e a sua função. Itaici - Revista de Espiritualidade Inaciana, p. 23-40, set. 2006.
[6]CENCINI, Amadeo. Op. cit., 1994, p. 19
[7] CORDIOLI, Volpato Aristides. Psicoterapias: abordagens atuais. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

[8] CORDIOLI, Volpato Aristides. Psicoterapias: abordagens atuais. 2ªed. Porto Alegre: Artes Medicas, 1998, p. 19.
[9] GRÜN Anselm, SARTORIUS Christiane. Amadurecimento espiritual e humano na vida religiosa. São Paulo: Paulinas, 2016, p. 13.
[10] GENARO JUNIOR, Fernando. Clínica do envelhecimento: concepções e casos clínicos. São Paulo: Todas as musas. 2013, p. 100.
[11] GONZÁLEZ-QUEVEDO, Luis. A arte do acompanhamento espiritual. Itaici - Revista de Espiritualidade Inaciana. São Paulo, n. 37, p. 3, set. 1999.
[12] SCHALLER in: PraktlexSpir, p. 336s apud Christiane SARTORIUS, Anselm Grün. Mística: descobrir o espaço interior. Petrópolis: Vozes, 2012, p. 14.
[13] VALLE, Edenio. Psicologia e Experiência Religiosa. 2ªed. São Paulo: Loyola, São Paulo, 2008, p. 91-92.


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FACULDADE JESUITA DE FILOSOFIA E TEOLOGIA
Curso de Pós-Graduação Lato Senso em Espiritualidade Cristã e Orientação Espiritual (ECOE)
Titulo do Ensaio: Orientação Espiritual e Psicoterapia - caminhos para o crescimento humano e espiritual no processo formativo.
Orientador: Prof. Dr. Fernando Genaro Junior
Aluna: Maria Beatriz Mohr
Data: 30 de maio de 2017

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